Dicas para viajar de trem
Caio Tristão
Caio Tristão
Atualizado em 29/07/15

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Não sei você, mas eu morro de inveja de países bem servidos por sistemas ferroviários. Acho incrível aquela coisa do faça-você-mesmo proporcionado pelas estações de trem que mal têm controle de acesso e parecem que vão entrar em colapso, enquanto na verdade funcionam analiticamente. Afinal, o que pode ser melhor do que se deslocar de uma cidade para outra com segurança, pontualidade e praticidade, sem ter que enfrentar a chatice dos sofridos check-ins e a redundância dos procedimentos de embarque dos aviões?

Pra mim, viajar de trem é o maior barato e é uma pena que no Brasil estamos bem distantes desta realidade. Praticamente só existe uma linha de passageiros em operação no país: o trem Vitória-Minas, que liga a capital capixaba à Belo Horizonte. Nos EUA e Canadá eles funcionam bem, mas não são muito populares. Em grandes países asiáticos como Índia, China e Rússia os trens são retratos de tradição e simplicidade. Na Europa eles são hábitos e não há nada que represente mais o continente – a praticidade e modernidade das linhas férreas europeias estão enraizadas no costume da população.

Por isso, há muita coisa para destrincharmos aqui no Vou Sem Guia. Nada de lero-leros. Nosso foco estará no uso do trem como meio de deslocamento e deixaremos as linhas estritamente turísticas para a seção de Roteiros de Trem.

O que vale mais a pena: avião, carro, ônibus ou trem?
Eita perguntinha difícil. Claro que a melhor resposta é: depende. O tipo de transporte a ser escolhido deve estar diretamente relacionado ao roteiro desenhado e o estilo da viagem. Não existe regra. O seu destino e o seu trajeto vão determinar qual o melhor meio de transporte ou a combinação deles. O que eu considero certeiro:

  • Avião: 700Km de deslocamento pode representar um cansativo período dirigindo um carro ou uma tediosa viagem de trem. Não se engane. A distância entre duas cidades pode ser bem maior do que aparenta o mapa. Para trechos longos, vá de avião.
  • Carro: é ideal para explorar cidades do interior, desbravar um país pequeno ou realizar roteiros clássicos. Viagem de carro combina com viagem despretensiosa, sem restrições e com calma. E apenas isso.
  • Ônibus: é uma excelente escolha na América do Sul. Preenche bem intervalos entre cidades sem aeroporto e é grande coringa nos programas bate-volta. Na Europa fuja deles. São pequenos, desconfortáveis e há outras trocentas possibilidades nas estações de trem.
  • Trem: para mim, onde há trem, ele é opção mandatória. Geralmente os embarques são pouquíssimos (ou nada) burocráticos; os deslocamentos são pontuais; tudo costuma ser prático e civilizado; você sai do centro de uma cidade e chega ao centro de outra. Em percursos de poucas horas eles são infalíveis.
    Claro que trens devem ser desconsiderados pelos mesmos motivos (acima) que você escolheria os aviões. Além disso, com o boom das companhias low-cost não é improvável que o bilhete aéreo esteja mais em conta do que um assento no vagão – saiba que viajar de trem não é barato em lugar nenhum.

Aproveite para curtir a paisagem… Só que não. 
Não se engane. Exceto para rotas estritamente panorâmicas (leia mais em Roteiros de Trem) ou em alguns países (Suíça e trechos da Índia, Austrália e Alemanha), você não terá nada para apreciar ao olhar pela janela. É o mesmo que acontece em grandes rodovias. É sério. Para curtir o visual, escolha estradas alternativas e vá de carro.

Na Europa: passes ou passagens avulsas?
Já viajei com passe estudantil de trem pela Alemanha, o German Rail Pass, e não recomendaria. Os passes que englobam toda a Europa são ainda menos indicados – são caríssimos e possuem restrições de classe, tipos de trem e áreas de abrangência. No final das contas, se gasta mais para ter o “conforto” de não ficar comprando trechos avulsos. Além do mais, é muito fácil adquirir passagens diretamente nas estações (as centrais, de preferência) e todas as empresas ferroviárias europeias possuem bons sites para compras online de tíquetes. O consolidador RailEurope.com tem versão até em português! (Em suma: passes de trem eram baratos e valiam a pena 15 anos atrás.)

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E é exatamente na hora de comprar suas passagens que você pode dar o pulo do gato. Buscando com antecedência dá para achar pechinchas nos sites das companhias, mas para isso é preciso que você dedique esforço em navegar em cada um deles. O truque é procurar seu bilhete sempre na cia do país de origem do seu itinerário e fuçar cada site com calma. As ofertas e possibilidades vão pipocar na tela indiscriminadamente.

  • Atenção 1: ainda há algumas empresas com restrições na reserva de bilhetes a partir de compras realizadas com cartões de crédito emitidos no Brasil. Utilize o PayPal sempre que possível.
  • Atenção 2: opte pelo tíquete online e evite ao máximo a entrega da passagem na sua residência. O frete até o Brasil não é confiável e pode levar mais tempo do que você tem.
  • Atenção 3: procure passagens com no máximo 90 dias de antecedência.
  • Atenção 4: a diferença entre a primeira e a segunda classe é ínfima. Não vale gastar mais por isso.
  • Atenção 5: na hora de comprar utilize na Alemanha (bahn.com); Áustria (oebb.at); Bélgica (belgianrail.be); Espanha (Renfe.com); França (voyages-sncf.com); Holanda (nsinternational.nl) ou Thalys.com para Paris-Bélgica-Amsterdã; Irlanda (irishrail.ie); Itália (trenitalia.com); Portugal (CP.pt); Reino Unido (nationalrail.co.uk) ou Eurostar.co.uk para Paris; República Checa (CD.cz); e Suíça (sbb.ch).
  • Atenção 6: no Leste Europeu também é super fácil e acessível viajar de trem. Recomendo que adquira suas passagens diretamente nas estações e evite sobretaxas das agências online ou bureau de turismo.

Lugares reservados e despacho de bagagem
Esqueça disso. Lembra da praticidade? Geralmente não há reservas de assentos em trens, especialmente nos europeus, e pode-se até viajar em pé. As exceções ocorrem para os trens de alta velocidade e a maioria das linhas internacionais. Para alguns trens noturnos, a escolha dos couchettes – cabines com camas (de 2, 3 ou 4 lugares) – acontece na compra do bilhete. Vai por mim: tudo funciona bem e de forma civilizada.

Também não há excesso de bagagem. O limite de peso e tamanho é o máximo que você consegue carregar e acomodar dentro do trem. Na entrada de cada vagão normalmente há um espaço para colocar as malas maiores e compartimentos superiores, acima de cada assento, para as bagagens de mão. Se não houver mais espaço disponível, você precisa se virar para caber tudo ao seu lado (vale corredor!) ou entre as pernas. Dica: malas devem ser sempre pequenas (!), etiquetadas e com cadeado. Vale usar cabos de segurança, daqueles de bicicleta. Ratifico que são raríssimos os trens onde há despacho de bagagem.

Por último, conheça o fantástico Assento 61
Eu sei que basicamente só cogitamos viajar de trem quando planejamos um roteiro para a Europa. Mas, espera aí! Não é bem assim. Existem excelentes (e muitas!) linhas nos EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Há boas opções no Peru. Na África do Sul é muito fácil e seguro viajar de trem e há uma extensa e tradicionalíssima malha ferroviária por toda a Ásia – além dos famosíssimos trens japoneses.

Eu recomendo que, para onde quer que você vá, considere esta alternativa e para isso não há nada mais incrível do que o portal Seat61.com. O site, em inglês, reúne informações e serviços detalhados de (arrisco em dizer) todas as opções de trem do mundo.  Tudo com links, mapas, tabelas de horários, preços, orientações e fotos. É a verdadeira bíblia do mundo dos trens de passageiros: pode saber que a sua dúvida já está lá.

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