AMÉRICA DO SUL / Cabo Polonio
Caio Tristão
Caio Tristão
Atualizado em 19/02/16

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Como irO que fazer | O que comer | Onde ficar

Tenho a ligeira sensação que este texto vai soar pretensioso. Tenho certeza, na verdade. Andei pensando em como escrever as minhas impressões sobre Cabo Polonio sem usar um caminhão de adjetivos positivos e parecer um menino de 10 anos pela primeira vez na Disney.

Mas, antes de tudo, deixa eu esclarecer uma coisa. Não curto essa vibe de mochileiro xiita que viaja pra passar perrengue e depois disputar com os amigos quem se meteu na maior roubada. Nem nunca entendi quem gasta uma grana viajando para consumir toda a pobreza que o cartão de crédito puder comprar – fazendo disso a experiência “mais incrível” possível. Nas minhas trips tento ir além das atrações turísticas do pacote CVC por um desejo pessoal, porque gosto de me submeter ao imprevisível. Acho breguérrimo aqueles lugares plastificados, com champanhes e antepastos, para gringo bobo; mas, assumo: viajo para me divertir, experimentar coisas e ter conforto. Preciso de uma cama legal, comida gostosa e banheiro bom.

Voltando. Embarquei para a minha turnê pelo Uruguai já com o nome de Cabo Polonio em mente. Na minha cabeça tratava-se apenas de uma comunidade hippie numa praia isolada do litoral norte celeste. Sabia também que o balneário é conhecido por não ter rede elétrica. E só. Não fiz qualquer esforço em busca de mais informações e resolvi apenas ir lá averiguar.

COMO IR

Eu e Kelly acordamos tarde. Fizemos check out no nosso hotel em Punta del Este quase no horário limite. Tomamos café da manhã numa lanchonete de rua e partimos sentido norte, rumo a qualquer lugar do Uruguai. Pelo mapa, Cabo Polonio se mostrava difícil de alcançar – não há uma rodovia litorânea que ligasse as duas cidades e para chegar lá seria preciso fazer um desvio por “dentro do país”. Como somos aventureiros… 

Com o plano de uma visita bate-e-volta, juro que quase desistimos no meio do caminho. Fomos ziguezagueando pelas praias e já estava ficando tarde quando nos demos conta que ainda faltava algumas dezenas de quilômetros.

Na sequência da insistência, logo veio a decepção. Ao invés da tal praia, a sede do Parque Nacional Cabo Polonio: um portal, uma área de estacionamento, um mural informativo.

Não há acesso de carro. Para chegar ao povoado é preciso enfrentar 30 minutos no lombo de um caminhão jardineira autorizado, numa travessia complicada sobre as dunas. Os horários de saída do parque e da cidade são fixos e a passagem custa 170 pesos uruguaios (R$ 20) por pessoa. Nossa ideia de bate-e-volta precisaria ser revista.

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Pensamos em desistir, mas duas perguntas, digo, duas respostas fornecidas pela simpática atendente do parque nos fizeram encarar o passeio:

– Hola. Hay posadas o hoteles en Cabo Polonio?
– Sí, claro.
– Hay cervezas?
– Sí sí. 

Então, voltamos ao carro, separamos duas mudas de roupas e compramos os bilhetes.

Os carros ficam num amplo estacionamento do parque, com sombra e vigilância. O custo é fixo de também 170 pesos.

O trajeto até a praia é divertido e bonito. Quer emoção? Vá na parte superior do caminhão.

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Serviço:

Cabo Polonio está localizado no litoral norte do Uruguai a 100 km da fronteira com o Brasil. Por isso, o melhor caminho para quem vem de Porto Alegre é seguir via BR-116 até Pelotas e desviar para BR-471 até a alfândega. No país vizinho, siga pela Ruta 9 e em Castillos pegue a Ruta 16, num total de aproximadamente 620 Km.

Para quem vem de Montevidéu, o melhor é seguir pela Ruta Interbalnearia até a entrada de Piriapólis. Faça um contorno no viaduto em busca da Ruta 9 que vai te levar até a cidade de Rocha. Ali, você volta para o litoral pela Ruta 15 e depois Ruta 10 até a sede do Parque – são 270 Km. Apesar de não parecer, tudo é fácil e bem sinalizado.

De ônibus, a Rutas del Sol faz o trajeto em 4 horas uma vez ao dia em cada sentido. As saídas acontecem no terminal rodoviário Tres Cruces da capital.

Para quem estiver em Punta del Este, e quiser esticar até Cabo Polonio, não há uma estrada litorânea que ligue os dois balneários. Há várias alternativas de caminho, desde que o seu objetivo sempre seja voltar à Ruta 9 e chegar em Rocha.

Opção 1: em Punta, saia direto para a rodovia 9. Opção 2: vá curtindo pelo litoral norte, Ruta 10, e em José Ignacio desvie para a Ruta 9. Opção 3, para os mais ousados (presente!): insista na Ruta 10 e siga até a Laguna Garzon, 20 minutos depois de José Ignacio. Faça uma travessia de balsa e daí são mais 30 Km de estrada de terra até a Ruta 9.

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A opção 3 vale a pena? Sinceramente, não. 

O QUE FAZER

Depois dos solavancos causados pelo caminhão ao atravessar a areia fofa da “estrada”, a chegada na vila de Cabo Polonio é triunfal. O veículo avança pela praia, a poucos metros da água do mar. De longe já dá para avistar a península, tomada por casinhas espalhadas sem regra, como se sequer existisse ruas.

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No ponto de parada, a constatação: há um ou outro caminho demarcado, mas de fato não há ruas no povoado. As construções não seguem nenhuma regra de proporção ou design e, ao que parece, a única imposição da engenharia civil local é de colorir as casas.

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Demora muito pouco para você ser hipnotizado pelo lugar. Como era baixa temporada, praticamente não havia pessoas circulando e tudo aparentava estar fechado. O mar aberto, com praia de horizonte infinito, é lindo e o imponente farol chama a atenção. Em Outubro o céu estalava a cor azul bebê, com sol brilhante e vento fresco.

A antiga visão de comunidade hippie à beira-mar que vive sem luz elétrica é rapidamente substituída por um sentimento de vida sustentável e simplicidade. Tudo é muito modesto. Não há postes, telefone, caixas eletrônicos e internet. Em segundos já dá para entender o objetivo de estar ali: praticar o ócio.

Não é preciso ser nenhum aventureiro bicho-grilo para enxergar beleza em todos os cantinhos da paradisíaca Cabo Polonio.

Praias

São duas praias, uma em cada lado do cabo. A norte, badalada, com rochedos, água turva e mar agitado (ideal para surfistas); e a do sul, por onde chega o carro do parque, que é ampla, com mar azul e calmo e água con-ge-lan-te!

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A praia mais calma é mais afastada da vila. Não há quiosques, nem bares próximos. Nem ambulantes.

Comércio, bares e restaurantes

Na principal rua da cidade há um miolinho onde se concentra os principais bares e restaurantes, além de lojinhas de artesanato local. São hippies e artistas com histórias de vida mirabolantes. Troque uma prosa com eles.

Peguei tudo praticamente fechado, mas vários barzinhos me pareceram charmosos e atraentes.

É por ali, claro, que acontece a vida noturna de Cabo Polonio – bem animada, com uma galera que vem de toda a parte do mundo em busca desse regime slow life.

Aliás, é a noite que outra mágica acontece no vilarejo. Tudo começa com o pôr do sol que reflete um alaranjado incrível sobre o mar. Moradores fazem fogueiras, as fachadas das casas são iluminadas por velas e lamparinas à gás e o céu vai pondo em cartaz uma quantidade de estrelas de tirar o fôlego. O auge do encantamento acontece a cada feixe de luz do farol que rasga o horizonte. É muita poesia, meus amigos!

Passeios

Cabo Polonio não exige qualquer programação. A principal atração do lugar está em caminhar à toa por entre as casinhas ou saborear o visual da praia de sua preferência.

Quem sabe presenciar uma festa infantil na única escolinha de lá.

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Os mais dispostos podem programar passeios a pé ou a cavalo – que podem durar 9 horas! – até o ponto mais alto das dunas, no Cerro de la Buena Vista. Mas, se não quiser ir tão longe para desfrutar de uma vista panorâmica da cidade, uma visita é obrigatória: o topo do farol.

A belíssima construção é datada do final do século 19. Está aberta ao público todos os dias, até o anoitecer, e paga-se 20 pesos (3 reais!) para acessar a casinha da lâmpada. O visual é DEMAIS!

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Nos rochedos atrás do farol está o melhor ponto para conhecer os principais moradores da península. São mais de 300 mil leões marinhos vivendo em Cabo Polonio, formando uma das maiores colônias desse animal em todo o mundo.

Os leões marinhos ficam ali, tomando sol, brincando e banhando-se no mar.

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Mesmo todo o ambiente pitoresco predominante, com a popularização do lugar, receio ter o fascínio apagado e não encontrar a mesma magia durante o pico do verão. Entretanto, ouvi relatos de que o réveillon em Cabo Polonio é extraordinário e inesquecível. Quero voltar pra ver.

O QUE COMER

Os bares funcionam como lanchonetes e oferecem tacos, pizzas, massas e sanduíches. Não há uma culinária uruguaia destacada e, claro, recomendo que você dê preferência às refeições com pescados e frutos do mar. Come-se bem em Cabo Polonio e paga-se preços médios/altos, como em todo o país.

O prato mais tradicional da cidade é na verdade um autêntico petisco: os buñuelos de algas. É isso mesmo que você imagina. São bolinhos fritos feitos com algas verdes do mar – fresquinhas! 

cabo-polonio-bolinhos-de-algaNão é propaganda da cerveja, tá?

É tão gostosinho que não resistimos e comemos mais uma vez antes de nos despedirmos do lugar.

ONDE FICAR

Cabo Polonio é frequentada em sua maioria por jovens (mochileiros ou não). Por isso, são muitas as opções de cabanas para alugar, quartos em casas de família e bombadíssimos albergues.

Os hostels Viejo Lobo e Lo de Marcelo têm fama internacional. O Cabo Polonio Hostel também parece ser uma boa opção de hospedagem econômica.

A melhor infraestrutura do balneário está na deliciosa Hosteria La Perla del Cabo.

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A pousadinha é rústica com estilo; tem varanda com redes e espreguiçadeiras na areia da praia e atendimento carinhoso da proprietária (que esqueci o nome).

Os quartos são pequenos, mas delicados e com banheiro privado com chuveiro quente – há lamparina e cortinado. O gerador próprio fornece energia elétrica, e internet wifi, do entardecer até às 22:00hs, quando tudo volta a ser escuridão. O único barulho durante o seu sono será o das ondas do mar.

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Outra alternativa legal, na mesma praia, é a Posada Mariemar.

Não há luxo em toda Cabo Polonio, mas o ambiente é muito agradável, quase místico. Eu até entenderia quem chegasse por lá e soltasse os cachorros, decepcionado com o que o vilarejo pode proporcionar turisticamente.

Mas, quer saber? Tudo bem. Quem gosta de Cabo Polonio é meio esquisito, ciumento. Para nós, quanto menos gente achar graça, melhor.

6 Comentários

  1. Tiago Borges EM 1/09/2015

    Achei interessante! O lance do reveillon deve ser beeem legal, heim?!

    • Caio Tristão
      Caio Tristão EM 2/09/2015

      Tiago, pode apostar no réveillon em Cabo Polonio. Não tenho dúvidas que deva ser DEMAIS!

  2. Marina EM 18/11/2016

    Estou querendo fazer uma reserva na Hostería La Perla, mas me pediram uma transferência via Western Union. Foi necessário na ocasião da sua viagem fazer isto com o hotel que ficou também? Achou seguro?
    Obrigada!!

    • Caio Tristão
      Caio Tristão EM 19/11/2016

      Oi Marina! Tudo bem?

      Eu não fiz reserva antecipada e acabei encontrando a Hosteria La Perla del Cabo na hora. Entretanto, se estão pedindo um adiantamento, não vejo problemas – Western Union é um método seguro de transferência de dinheiro.

      Depois me conte se deu certo. Boa viagem!

  3. Yasmin EM 19/04/2017

    Olá Caio!

    Pesquisei nos sites das pousadas que você recomendou, e não informam valor…

    Para me organizar gostaria de ter uma noção…
    Você poderia me dizer quanto pagou na diária?

    Obrigada!!

    • Caio Tristão
      Caio Tristão EM 20/04/2017

      Oi Yasmin! Tudo bem?

      Cabo Polonio é hipponga, mas as opções de hospedagem — ainda que muito simples — são caras! As diárias também variam muuuito por temporada. O La Perla del Cabo não sai por menos de 100 dólares por dia para um casal, com café da manhã. As diárias no Viejo Lobo e em outros albergues gravitam em torno de 40 dólares por pessoa em quarto compartilhado.

      Já deu uma olhadinha no Booking? Tá cheio de opções para Cabo Polonio! Veja se ajuda.

      Boa viagem!

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