Viajando Sozinho(a)

O velejador Amyr Klink certa vez escreveu que “quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só”. Além de muito bonito (e filosófico), você há de convir que Klink acha muito legal realizar suas expedições sozinho e certamente acredita ser suficiente ter ‘apenas’ o mundo como seu único companheiro de viagem.

Eu estou a infinitas léguas de distância da audácia de Amyr Klink, mas posso contar que minha experiência viajando sozinho não foi nada solitária e muito mais do que radical. Foi marcante! Não era um período sabático, um momento de reflexão sobre a vida ou uma desilusão espiritual. Viajei sozinho porque eu quis – e porque não arrumei companhia. E te garanto: foi mais fácil do que pensei.

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Quer um empurrãozinho?

Sua mãe vai te pedir para não comer na rua; vai falar para você tomar cuidado com suas coisas; não beber muito nas baladas e não sair com estranhos; manter seu telefone sempre ligado; jamais deixar sua mala sem cadeado e tomar cuidado com traficantes de órgãos espalhados por aí atrás de um rim brasileiro! 

Esqueça disso. Se depender de mim, serão apenas 7 macetinhos para você se dar bem no seu nada-solitário rolê mundo afora. Vai por mim.

1. O mais importante: vá de coração aberto

Ao menos que você esteja em busca de um momento de introspecção e isolamento, não faz sentindo embarcar numas férias sozinho querendo ficar sozinho. Sua viagem desacompanhado só dará certo se estiver disposto a conhecer gente nova o tempo todo. Por isso, vá de coração aberto. Esteja animado para fazer amizades, sair da programação, experimentar coisas novas e desfrutar de outras culturas. Esse é o grande barato da história.

Mas funciona para mulheres? O TripAdvisor realizou um estudo em Março de 2015 onde confirmou que uma em cada quatro brasileiras costuma viajar sozinha e pretende repetir a experiência. No Reino Unido o número passa de 80%!!! Mundo afora, é cada vez maior a quantidade de meninas curtindo as férias sem companhia (“fixa”). Quem viaja sozinho é mais autoconfiante. Você não vai se arrepender.

2. Tagarelar é fundamental

Claro que dominar outro idioma, em especial o inglês, ajuda muito. Mas, você não precisa ser nenhum fluente em outra língua para se dar bem por aí. Eu já chorei de rir das piadas de um turco mesmo sem entender uma palavra do que ele falava – e todo mundo ao meu redor se divertia demais também. O importante aqui é estabelecer comunicação. Fazer contato.

Um sorriso e um ‘bom dia’ na mesa do café da manhã não é educação. Quando sozinho, é o pontapé inicial de uma companhia para a próxima tour. Converse com as pessoas ao seu redor, convide-as para uma caminhada ou um almoço. Permita-se uma prosa com um desconhecido. Numa boa, seja expansivo na medida certa.

3. Albergue (animado) é hospedagem obrigatória

Dividindo o quarto, a cozinha, o café da manhã e reservando os passeios com o albergue você se envolve imediatamente com pessoas que estão, assim como você, sozinhas e interessadas em conhecer outras pessoas. Na hora de reservar a sua hospedagem, procure por hostels cuja a classificação no quesito Atmosphere ou Cheerful sejam as mais altas. Isso quer dizer que estes locais são reconhecidamente animados e focam na diversão dos seus hóspedes, geralmente oferecendo programações adicionais.

Tem albergue com dia da pizza, do passeio guiado ao palácio, do tour de bicicleta ou do filme com pipoca. Faça tudo que te ofereçam! Você vai ter tanta companhia para curtir sua viagem que não vai nem dar conta de passear com todo mundo. Acredite.

Fuja dos hotéis e passe muito longe dos resorts. Quem viaja sozinho TEM que ficar em albergue. Nunca experimentou? Você vai se surpreender.

4. Pegue leve

Deixe em casa sua camisa da moda, seu salto alto ou aquele relógio importado predileto. Faça uma mochila pequena e facilite sua vida e seu deslocamento. Sozinho, é preciso agilidade e comodidade. Lembre-se que albergues costumam oferecer pequenos armários (lockers) e suas coisas vão querer caber lá dentro. Lave suas roupas pagando preços menores do que você imagina. Desapegue e esteja livre.

5. Planeje seu roteiro, mas seja flexível

Para qualquer boa viagem, é muito importante um roteiro bem planejado e organizado. Com poucos truques dá para fazer seu giro mais esperto e gastando menos. Ao viajar sozinho, é preciso um pouquinho mais de cautela e um planejamento ainda mais minucioso.

É assim: você vai montar o itinerário como se estivesse indo acompanhado, mapeando suas cidades-alvo, identificando meios de transporte, contabilizando dias e custos. Com tudo na ponta do lápis, verifique os buracos do seu desenho para possíveis mudanças de plano. Não é que eu queira prever o imprevisto, mas sugiro que você tenha flexibilidade – e não faça um roteiro todo amarradinho. Ao deixar suas datas mais soltas, você dá chance de partir para um destino não programado com um melhor-amigo-da-vida que acabou de fazer no albergue.  E é legal à beça.

sozinho-boracay-filipinasDe bobeira…

O assunto que reina nos saguões dos albergues é exatamente sobre as rotas que cada um tem. Perguntas do tipo “Daqui você vai para onde?” são mais comuns do que “Where are you from?”. Viajantes sozinhos oferecem companhias para os seus pares e novas e impensáveis trips, agora acompanhadas, surgem assim, espontaneamente. Dê uma chance ao imprevisto.

6. Slow Travel – um livro e um iPod

Tire o pé do acelerador. Nada de turnês mirabolantes e mil países em 20 dias. Para a sua viagem sozinho(a) adote a filosofia do Slow Travel. Não conhece? O Slow Travel, inspirado no Slow Food – aquele movimento que promove uma melhor apreciação da comida e qualidade das refeições –, preconiza que a pressa é a maior inimiga das viagens perfeitas. Esqueça os bordões espalhados por aí e invista seu tempo (e dinheiro) em momentos que serão realmente memoráveis.

Explico. Se perder seu sono e ficar igual um maluco por aí em disparada, cumprindo toda a lista de cartões-postais que você leu na internet, provavelmente vai voltar para casa precisando de férias para descansar das férias. Nada será tão épico quanto o dia que você saiu para caminhar despretensiosamente, sem planejamento, observando as pessoas, comendo nos lugares que cruzaram seu caminho, torcendo para que o tempo não passasse nunca.

Esse ritmo, claro, funciona para qualquer tipo de viagem, mas é que em grupo fica mais fácil se reoxigenar. Sozinho não. Adotar o Slow Travel é apontar a proa do seu navio na direção do sucesso. Um livro, um café, um iPod e uma tarde na sombra de uma árvore vão te marcar para sempre.

7. Divirta-se muito!

Morra de rir dos perrengues que surgirem. Celebre os sustos depois que eles passarem. Se emocione batendo perna nas ruas daquela cidade que você sempre quis conhecer. Vá disposto a fazer amizades e conhecer gente nova. Divirta-se muito!