Uruguai em: o relato de um amigo jornalista

Caio Tristão
Caio Tristão
Atualizado em 24/02/16

Meu grandessíssimo amigo Rafael Braz acabou de voltar de um giro pelo Uruguai por 10 dias. Como adoro as opiniões dele e soube que tinha um restinho de férias disponível, logo mandei um pedido de um relato da viagem para colocar aqui no blog. Pelo que li, o Braz não seguiu muito bem todas as dicas do Vou Sem Guia não  – e caiu em algumas roubadas no país celeste –, mas pôde confirmar a delícia que é o uma viagem pelo Uruguai. Diz aí, Braz!

Texto: Rafael Braz

Sair de Vitória para qualquer destino fora do país – e até para alguns aqui dentro – é difícil. Por isso a jornada começou cedo, ainda pela manhã, na capital capixaba. Sedentos por férias e com várias dicas do blog “na bagagem” fomos em dois casais para o Uruguai; não sem antes esperar durante umas oito horas no aeroporto do Galeão, no RJ, claro. Mas a espera não era problema, afinal teríamos 10 dias de férias pela frente.

Seguindo dicas do blog, tínhamos tudo planejado: chegaríamos ao aeroporto de Carrasco, em Montevidéu, no final da noite e dali partiríamos para o hotel (Ibis) com um carro alugado (deveríamos ter alugado antes. Anotem a dica). No dia seguinte partiríamos para Colonia del Sacramento, nossa primeira parada real. O problema foi que o voo atrasou um bocado e que a fila para a imigração também foi bem demorada. Resultado: somente a Avis, que tem os preços relativamente altos, tem uma loja 24hs por ali. Era isso ou pagar pelo caríssimo táxi oficial do aeroporto, bem mais caro que os baratos táxis que circulam pela capital uruguaia.

Colonia

colonia-carro-2

No dia seguinte partimos para Colonia. Devo confessar que fui sem saber o que esperar, mas o lugar é muito bacana. Com o dia bem calmo, pudemos passear pelas ruas de pedra do bairro histórico e curtir o belo por do sol do local tomando duas Patricias bem geladas. Aparentemente a cerveja mais popular do país, a Patricia é cara – como todas as outras – e não tem nada demais – como todas as outras.

Sem pousada definida, demos uma volta e acabamos na El Viajero. Dica importante: o preço de balcão é bem maior do que o de sites como Booking. Após rodar pela cidade e só encontrar preços elevados, resolvi achar uma conexão wi-fi, reservar pelo aplicativo e voltar lá na maior cara de pau. A pousada/hostel é bem cara para o que oferece, mas paga-se o preço por estar em uma cidade turística.

À noite, após uma boa volta acompanhado pelos frios ventos às margens do Rio de la Plata, nos deparamos com alguns restaurantes fechados e outros devagar quase parando. Mais uma vez ignorando dicas, paramos no El Drugstore, casa com decoração bem hipster, cozinha aberta e pratos variados. O clima estava legal, animado, mas a comida, no entanto, não tem nada demais.

Punta Del Este

punta-galeria-2

Após a noite em Colonia, partimos pra Punta meio de ressaca, mas não antes de passar em Carmelo, também conhecida como a Baixo Guandu do Uruguai. Se você não tem dinheiro para aproveitar as dicas do The New York Times na cidade (se hospedar dentro de bodegas, etc.), passe longe. A ida até lá serviu apenas para comer um chivito horroroso e tirar algumas fotos, mas aumentou em mais de duas horas nossa viagem até Punta.

Chegando lá já de noite e meio sem saber onde ir, pedimos informação no hotel (Romimar) e acabamos indo ao restaurante Los Caracoles; preço honesto, comida boa e ótima indicação de vinho. Passa longe da badalação e do glamour de Punta, mas, como restaurante, é otimo.

No segundo dia, com muito sol, após uma boa volta de carro pela cidade, fomos visitar o “macabro” monumento aos afogados, na Praia Brava. Também conhecido como os “dedos” na praia, o local, assim como toda cidade, é cheio de turistas o tempo todo. Não é nada demais, mas rende boas fotos; um lugar para uma paradinha de 20 minutos.

Dali para Casapueblo, onde nos disseram que veríamos o melhor pôr do sol do Uruguai. O lugar é interessante, com uma arquitetura única, e também serve como um (caro) hotel. Aos visitantes, com trânsito limitado lá dentro, resta o restaurante na parte de baixo, onde se paga cerca de R$ 30 para entrar, mas o valor volta em consumação (mesmo que uma cerveja custe quase R$ 30).

A noite ficou por conta do Moby Dick, um tradicional pub/restaurante conhecido por ser o único reduto animado de Punta fora de temporada. A comida é bem boa e o preço é o padrão Punta, ou seja, caro. Pelo menos foi uma noite animada, com uma banda tocando versões criativas para clássicos do rock e do reggae. Não demorou, no entanto, para que, no intervalo da banda, a casa colocasse um DVD do Sambô pra rolar… Revelando que todo mundo ali era brasileiro. De qualquer forma, apesar do Sambô (e isso é um apesar muito grande), foi uma ótima escolha.

No terceiro dia, meio que sem programação, rodamos por Punta e proximidades. Fomos à famosa Beverly Hills e aproveitamos para dar uma passada no museu Ralli (a entrada é gratuita). No final do dia, quem diria, assistimos a mais um belo pôr do sol acompanhado por algumas garrafas de vinhos comprados nos supermercados (a preços ótimos). Pela noite, apenas para saciar a vontade de uma das viajantes, demos um pulo no Cassino Conrad, situado no hotel que leva o mesmo nome e conhecido dos brasileiros pelo patético programa do Amaury Jr. Apesar de ser pejorativo à beça, o adjetivo combina com o lugar. Poucas vezes me senti em um ambiente tão ridículo quanto dentro do referido cassino. Além de te olharem de cima em baixo por todos os cantos, é quase impossível presenciar alegria por ali; para as pessoas em suas belas camisas polo numeradas – de quem nunca praticou o esporte -, perder dinheiro é um passatempo. Enfim…

A verdade é que longe da badalação de hotéis e cassinos, Punta não tem muito a oferecer além da beleza natural, belas construções, praias e do delicioso, melhor da vida, sem exagero, churros do Manolo. Justamente por isso, eu e minha namorada preferimos encurtar nossa passagem por ali e partir para a pitoresca vila de Cabo Polônio, por onde o casal que nos acompanhou durante a viagem nem sequer pensou em passar.

Cabo Polônio

cabo-polonio-visual-farol

A viagem de Punta a Cabo Polônio de carro é tranquila. Para chegar à vila, deixamos o carro na entrada da área de preservação e pegamos o famoso caminhãozinho sobre as dunas – um trajeto curto, mas que demora uns 20 minutos. Na parte de cima do caminhão (porque tem que ter aventura), o vento frio e o sol forte são facilmente superados quando você chega à praia e avista as primeiras casas de longe.

A vila é bem mais roots do que eu imaginava, com pouca energia elétrica (internet, no hostel, uma hora por dia) e poucas casas ocupadas, mas com gente de todo o tipo circulando. Chegando lá fomos direto para o hostel (El Viejo Lobo) antes de dar uma volta. Fomos prontamente recebidos pelo Cédric, responsável pelo hostel, que nos mostrou nossa acomodação e as áreas comuns. O clima é de uma grande comunidade hippie, com pessoas de todos os cantos do mundo cozinhando, bebendo e tocando violão – e ukulele – durante a noite. Segundo relatos da simpática Vicky, também do hostel, no verão e no réveillon o lugar fica lotado de turistas que ocupam todos os leitos da vila e animam as noites com fogueiras e rodas de violão.

Mesmo fora de temporada, o lugar é uma delícia. Anda-se tranquilo pelas “ruas” em que se ouve diversos idiomas. Andar é o que há para fazer por lá, diga-se de passagem. Andar para ver os lobos marinhos, andar para chegar às dunas, andar para conhecer as praias… Tudo muito bonito e pitoresco, que te passa aquela sensação de estar em um lugar especial, ainda não conhecido pelo homem…

Curiosamente, foi em Cabo Polônio que estivemos no melhor restaurante da viagem. O La Perla del Cabo (que também funciona como pousada, para os mais exigentes) oferece poucos pratos, mas todos deliciosos. A Bia ficou com o pescado do dia acompanhado por uma parada com abóbora (não me pergunte o que era, mas tava bem gostoso), já eu fui pela recomendação da Vicky e fiquei com uma milanesita, uma espécie de socol à milanesa. Interessante. O mais bacana é que os preços são bem inferiores aos praticados por restaurantes no resto do Uruguai.

Após uma noite bem dormida (sem barulho ou qualquer incômodo), nos despedimos da vila e voltamos para Punta apenas para resgatar nossos companheiros. De lá partimos de volta para Montevidéu, onde devolvemos o carro e passamos mais quatro dias.

Montevidéu

montevideu-galeria-2

A capital uruguaia é uma cidade velha não apenas no bairro Cidade Velha, onde fica o Mercado do Porto e suas inúmeras parrilladas cata-turista.  A cidade tem ótimos – e caros – restaurantes, táxi barato (a não seja que você vá para o aeroporto…) e algumas boas atrações, mas passa longe de ser Buenos Aires, por exemplo.

O tal mercado, apesar de “turistão”, tem ótimas carnes e é um bom programa para o início de tarde. É possível rodar a Cidade Velha tranquilamente sem muito esforço, mas todos recomendam que se faça isso durante o dia; à noite o lugar pode ser meio perigoso.

Outra atração interessante é o Bar Fun Fun, uma tradicional casa que tem tango uruguaio e danças típicas do país. Mesmo com um público formado por turistas e preços altos, o lugar é uma boa e divertida opção para a noite de Montevidéu, que, assim como em Punta, começa bem tarde.

Outro programa interessante – para quem curte – pode ser a visita à Bouza, uma das maiores bodegas do país. A cerca de 25km de Montevidéu (pode-se ir de táxi ou de van), a Bouza oferece uma pequena visita guiada (mais do mesmo) e uma boa degustação de seus vinhos acompanhada de queijos, frios e pães. Após a degustação é possível almoçar por lá, mas os preços são caríssimos. Para mim ficou a impressão de que eles se preocupam mais com o status do que com a qualidade; os vinhos são muito caros e nem de longe os melhores que provamos no Uruguai, mas a boutique é impressionante e o local muito bonito.

Os vinhos uruguaios e a uva Tannat são um capítulo extra… O Dom Pascual é o mais comum, mas só fica realmente bom em suas linhas superiores. O “desconhecido” Stugnari, mesmo em sua linha mais básica, é ótimo e tem ótimos preços nos mercados, mas o nosso queridinho foi o Atlantico Sur Tannat, produzido pela mesma bodega do Dom Pascual, mas muito superior – em qualidade e em preço.

Ainda deu tempo para curtirmos um bom hambúrguer na chuva e última noite na hamburgueria Americano. Vazia (“a chuva afasta as pessoas no Uruguai”, me disse o taxista), a casa tem funcionários simpaticíssimos, pacientes e boa trilha sonora com rock alternativo.

A impressão final da viagem foi ótima e nos divertimos pra caramba. Foi estranho perceber como Uruguai é influenciado culturalmente pela Argentina – era mais fácil ver jovens com camisas de River Plate e Boca Juniors do que com mantos do Peñarol ou Nacional, os dois maiores times do país. Quanto à comida, o chivito é um x-tudo com grife… carne, queijo, presunto, maionese, ovo, batata frita e salada num pão ou no prato… mas as carnes são uma delícia, assim como o doce de leite.

O turismo por lá, no entanto, não é dos mais baratos para nós e deve-se ir preparado para gastar mais do que o planejado. Aos que despertaram um interesse súbito em virtude da legalização da maconha no país e do carismático José Mujica, fica a dica de que, mesmo quando o comércio passar a ser realizado em farmácias daqui a uns seis meses, ele será restrito a moradores do país. Como um taxista me disse, a intenção de Mujica sempre foi combater o narcotráfico, e não criar um novo tipo de turismo.

1 Comentário

  1. Valfré EM 27/11/2015

    Obrigado por mencionar preços de todas as coisas. E parabéns por comparar uma cidade uruguaia com a nossa querida Baixo Guandu.

Deixe um comentário