AMÉRICA DO SUL / Cartagena das Índias
Caio Tristão
Caio Tristão
Postado em 28/10/15

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O que fazer | Onde ficar | O que comer | Quando ir | Como ir

Tudo é uma questão de ótica. Foi em 2007 que a Colômbia decidiu de vez inverter o ponto de vista externo e colocar foco no binóculo de turistas que nunca cogitaram o país como opção para as próximas férias. Cá entre nós, o imaginário popular que se manteve por muitos anos sobre o nosso vizinho era: guerrilha popular comunista das FARC, sequestros frequentes nas ruas de Bogotá, um cartel de narcotráfico dominado pelo doidão-metido-a-robin-hood Pablo Escobar, a cabeleira do Valderrama, os rebolados da bela Shakira e, olhe lá, um bom café. A gente tinha informação demais para definir o país; e por que pensar diferente?

Tudo é mesmo uma questão de ótica. Ou de investimento. Eis que o governo colombiano lançou na praça uma série de políticas de modernização do país e enterrou dinheiro em campanhas publicitárias que chamavam a atenção para as belezas da Colômbia. De repente, frases de efeito como “Colombia es pasíon” e a mais forte “El riesgo es que te quieras quedar” (em português, “O perigo é você querer ficar”) pipocavam em aeroportos do Brasil. Para o golpe ir mais baixo, tinha mais. O principal chamariz e porta de entrada tinha nome e sobrenome: Cartagena das Índias.

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Devo assumir, fui vítima do esquema. A propaganda me convenceu e Kelly e eu escolhemos Cartagena como destino para o réveillon 2011/12. Abandonar o nosso Brasil – país que é PhD em viradas de ano – não seria tarefa fácil. A expectativa era alta; tava doido pra saber se Cartagena seria capaz de suprir nossa sede festeira.

Olha, vou te falar uma coisa: tá aí um lugar que vale a visita. A cidadela histórica, cercada por uma muralha, é calorosa, rica em detalhes, alegre e excessivamente charmosa. Eu demorei tempo o suficiente para deixar minha mochila no quarto do hotel, colocar umas havaianas e descer a Plaza Fernandez de Madrid para me apaixonar por Cartagena.

Foi fácil fácil entender por que Gabriel García Márquez escolheu a cidade como escritório para escrever os seus mais famosos romances. Aposto, tem dedo de Cartagena naquele prêmio Nobel!

O QUE FAZER

Cartagena das Índias, o município, é bem grande. A cidade é a quinta mais populosa da Colômbia e junto com Barranquilla forma o centro comercial caribenho do país – um lugar de negócios – com uma considerável zona portuária que serve como ponto de escoamento para o Atlântico.

Mas esqueça essa Cartagena; são apenas dados. A simpatia que você está buscando está toda concentrada numa pequenina área histórica, dentro do que os colombianos chamam de la ciudad amurallada (cidade amuralhada). É ali que construções preservadas dos séculos 17 e 18 colorem ruelas de calçadas estreitas, entre praças arborizadas e vendedores de frutas frescas, formando um lindíssimo e pitoresco cenário.

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Sem dúvida, o melhor programa de Cartagena é caminhar muito e desvendar por conta própria cada cantinho dentro da muralha. A vida na rua é intensa dia e noite: pintores, artesãos, dançarinos e ambulantes dividem espaço com mesas de bares e um esquisito tráfego de carruagens – no início pode assustar, mas eu só conseguia ver charme pra todo lado.

cartagena-movimento-transito-ruasAlô, governo colombiano! Proibir a circulação de carros na cidade seria o must. Fica a dica.

Lembre de fazer paradas obrigatórias nas três principais praças: San Diego, Fernandez Madrid e a maior e sempre com atividades culturais Santo Domingo. Cartagena está mais para Cuba do que para Cancún, e passa longe de ser um destino para tirar onda. E mais: estamos falando de uma das cidades coloniais mais lindas da América do Sul.

Bares e Restaurantes

Cartagena possui uma infinidade de ótimos restaurantes – são opções de todo o tipo de gastronomia, para todos os gostos e bolsos. Entre as ofertas na recepção dos hotéis e um passeio pelas ruas, várias recomendações em comum serão recorrentes. Na internet, tudo é muito bem cotado.

O que você vai ouvir falar por aí: que o El Santíssimo é metido a besta e a melhor pedida de Cartagena; que o La Vitrola oferece pratos fantásticos; o Candé tem ótima degustação de frutos do mar; que você tem que experimentar os picolés da La Paletteria e comer sua sobremesa no internacional Crepes & Waffles (fora da muralha).

Nada disso é mentira, mas os restaurantes que me marcaram e rechearam os meus pitacos são:

La Casa de Socorro tem o ambiente mais aconchegante e original de Cartagena. É comida costeña na veia, típica do caribe colombiano. O ceviche de mariscos é para comer de joelhos e as lagostas gratinadas fazem você chorar. Os mais dispostos precisam provar a cazuela de mariscos. Mas, atenção! A fama dos pratos é tamanha que várias Socorros se multiplicaram pela cidade. Fuja das imitações; o original está na Calle Larga, em Getsemaní.

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O restaurante El Balkoon foi uma grata surpresa. O lugar é pequeno e possui ambiente simples; a comida é caseira de qualidade e muito barata. O destaque é a pequena varandinha que funciona como camarote para apreciar o movimento da praça San Diego. Assino embaixo.

Já o Krioyo é um lindíssimo bar cubano, com um acolhedor pátio externo. Rola musiquinha ao vivo num clima animado e descontraído. Peça um drink e arrisque qualquer petisco do cardápio – é certeiro! Fica na Calle de la Mantilla 3-49.

Quando o figurássa Anthony Bourdain passou por Cartagena, ele saiu atrás de vários ceviches para intitular apenas um como o melhor do caribe colombiano. Segundo o próprio, encontrou. Aí, desde que Bourdain lançou no seu programa o nome da La Cevicheria o lugar ficou disputadíssimo. É uma bodeguinha com mesas na rua e ceviches incríveis. Fica na Calle Stuart 714 e vale cada centavo!

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Para quem quer fugir de frutos do mar, no entorno da Fernandez de Madrid duas opções são legais: o Plaza Majagua, que se considera um lugar para parrillas cartageneras e serve honestos pratos com carne; e a supermovimentada Pizza en el Parque.

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De tudo isso, o clichê do clichê é o imperdível Café del Mar. Situado nada mais nada menos do que sobre a muralha, de frente para o mar, o barzinho tem a vista mais privilegiada para o belíssimo pôr-do-sol de Cartagena. Uma cervejinha no fim de tarde por lá é passeio mandatório. O Café del Mar foi nossa escolha para a noite da virada e, de tudo que eu lembro , não deixou nada a desejar.

As praias

Ainda que não seja uma ilha e esteja na América do Sul, Cartagena pode sim ser considerada um destino do caribe. Mas, calma lá. Não sugiro que a cidadela colombiana entre no seu roteiro se o seu foco é (apenas) pegar aquela praia paradisíaca tão sonhada. Desculpe, mas não vai rolar.

Cartagena é para você: que quer conhecer uma cidade histórica charmosa e voltar para casa bronzeado.

A visita vai te decepcionar: se você tá em busca de caribe no estilo hotelzão all-inclusive à beira mar.

As praias da cidade são feias e sem graça – é preciso embarcar em lanchas para visitar as Ilhas de Rosário e curtir o dia à beira mar. As minhas dicas de praia:

A tal Islas del Rosario é de fato um arquipélago; o que hotéis e agências oferecem geralmente são passeios para uma ilhota privada específica com infra (restaurante, hotel ou resort). Os itinerários que você vai ouvir falar têm um tipão pega-turista, mas pode apostar que eles são bacanas e funcionam bem – claro que aí vai valer a sua intuição, pois cada lugarzinho tem seu estilo e seu próprio preço.

Ainda que os valores variem, o pacote é quase sempre idêntico: sai de lancha no início da manhã, passa o dia livre, volta no fim da tarde com o barco batendo muito. Todas as opções que vi incluíam a mesmíssima refeição: pescado (um peixe frito), arroz de côco e patacones (banana verde frita). Existe a opção de frango para quem não come peixe, mas um lanchinho na mochila cai bem e não te deixa na mão.

cartagena-embarque-barcosPorto de embarque.

A nossa escolha foi Isla del Sol: um hotel que tem um trecho de praia pequeno, mas lindíssimo, um bar bacana com piscina, cerveja gelada e atendimento carinhoso. Me pareceu um lugar excelente para crianças, porque ainda dá para conhecer um aquário aberto (que não fomos) e há um cercadinho na praia que garante a segurança. A água do mar é clarinha e o visual recompensa. Outros lugares como Majagua, Isla del Tesoro e Isla del Pirata também são recomendados. Preço médio do tour: 100 mil pesos + impostos por pessoa.

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Playa Blanca é o que os colombianos chamam de praia pública, ou seja, tenha paciência com os ambulantes e se prepare parar desembolsar uns 20 mil se quiser sentar numa mesinha embaixo de uma carpa (espécie de guarda-sol mambembe) – você pode levar sua canga.

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É sim praia do caribe – linda, areia branca, mar azul e tal –, mas é confusa. Para ir de barco, o passeio sai em média por 50 mil pesos + impostos e inclui o famoso pescado com arroz de côco e patacones. Com MUITA disposição dá para ir de ônibus e moto táxi, mas não arrisque. Playa Blanca vale a pena? Vale sim.

Quer conhecer uma alternativa legal? Da cidade amuralhada siga de táxi até Bocagrande, ao sul. As praias por lá também são públicas, mas têm boa infraestrutura. Descobrimos um lugar na ponta, perto do Hotel Caribe, chamado Sunset Beach: um lounge agradável, com atendimento bacana, bebidas, comidas, camas e tendas. Vale a pena passar o dia.

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Ao norte, distante 15 minutos de táxi do centro, as Playas de Marbella também são interessantes. Por lá, o conceito de lounge também prevalece e cacifar um guarda-sol pode ser ótima pedida; ficamos no Chiringuito Beach Bar e gostamos.

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ONDE FICAR

De todas as regras para escolher sua hospedagem em Cartagena, uma é mandatória: faça de tudo e garanta um lugar dentro da cidade amuralhada. É neste “hipercentrinho” que a magia acontece e onde Cartagena faz jus à fama. Se você não seguir esta regra, eu não te garanto boas férias. Hunf! 

Ok, topei, e agora? Bem. Tem opção pra todo mundo. Cartagena foi o primeiro lugar que conheci onde hotéis boutique simplesmente tinham virado febre no mundo da turistagem – e cada casarão antigo se revelava uma porta de entrada para opções de luxo e preço elevadíssimos.

Tá podendo gastar? Garanta sua reserva nos lindíssimos Casa Pestagua, Casa La Cartujita ou Quadrifolio, sem erro na localização.

Quer tirar onda? O Sofitel Santa Clara está instalado num incrível e antigo convento, com jardim delicado e piscinão de dar gosto – é a opção mais bombada da cidade.

Vai apelar? Os hotéis Charleston Santa Teresa e Casa San Agustín, ambos membros do Leading Hotels of the World, são absurdamente estilosos. As diárias vão passar dos 500 dólares, mas você não vai se decepcionar jamais.

Na faixa média sem medo de errar? O Casa del Coliseo tem ótima reputação e o Casa La Fe, onde me hospedei, é charmosinho, possui ótimo atendimento e cumpre o que promete. Recomendo.

O QUE COMER

A notável qualidade da comida costeña colombiana vai muito além do peixe frito com arroz de côco e patacones. É que o país como um todo sofre da influência de quatro macrorregiões que transformam os pratos em verdadeiros caldeirões culturais; apesar de pequenino, a Colômbia bebe de fontes gastronômicas no Pacífico, nos Andes, na Amazônia e no Caribe. Cartagena exala essas influências: com uma culinária de personalidade forte e ao mesmo tempo requintada, a cidade é a verdadeira definição do comer bem.

Frutas frescas, abacate, tubérculos, milho, côco, peixes diversos e muuuuitos mariscos são os insumos primários dos cardápios cartageneros.

Você precisa provar…

As cocadas (sim, cocadas!) e balas de tamarindo vendidas na praia pelas senhoras colombianas.

A cazuela de mariscos, conhecida como sopa levanta muertos pelos locais. A mais gostosa, que é gratinada com queijo, você encontra no restaurante La Casa de Socorro.

O arroz marinero (uma espécie de paella colombiana) ou apenas o arroz con chipi chipi (mexilhão da região) também são pedidas ótimas! Para não errar, as lagostas e caranguejos em Cartagena têm preços excelentes e estão sempre frescas.

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Também não dá pra ir embora da Colômbia sem provar o acepipe mais famoso do país: as arepas, um típico pastel feito com farinha de milho. As arepas costeñas vêm recheadas com ovo e são comidas normalmente no café da manhã; as rellenas são recheadas à gosto (jamón y queso, carne de res o pollo, camarones, etc) e são aperitivos em qualquer hora do dia. Em Cartagena, esbarrei num buraquinho supersimples e totalmente frequentado por locais – foi a melhor arepa que comi na Colômbia. Quer acertar? Vai por mim, o lugar se chama Donde Magola, fica na Calle Portobelo ao lado do supermercado Exito.

Por último, mas nem um pouco menos importante, o prato mais emblemático de Cartagena: o ceviche. O marinado de peixe cru que começa a ganhar popularidade no Brasil é um verdadeiro símbolo da gastronomia caribenha local – e o quitute predileto da Kelly.

E quer saber – vou causar frisson agora! –, os ceviches colombianos são os melhores de todos. Ponto. Comi umas combinações fantásticas no Peru, mas a cremosidade do leche de tigre nas receitas de Cartagena deixou os ceviches locais mais encorpados e nos emocionou. É sério.

Colômbia, Peru e até o Chile disputam a autoria do prato, mas não importa; Cartagena é o lugar deles. Já te contei que você tem que ir ao La Cevicheria, mas também não deixe de experimentar as versões servidas em carrinhos espalhados pelas praias. É yummy yummy mesmo.

QUANDO IR

Não é preciso fazer muitos planos para visitar Cartagena. A cidade faz calor o ano todo, independente da estação, e possui temperatura média elevadíssima (na casa dos 28 °C) – ou seja, sua praia está garantida. Se não quer correr risco algum, é bom evitar os meses de setembro, outubro e novembro, porque há chances de chover muito por alguns dias. Entretanto, é bom lembrar que a Colômbia não está na zona de furacões.

Dá também para prever que períodos de alta temporada e férias entopem a cidade, que é um destino muito turístico, mas não chega a torná-la desagradável. Como disse, passei meu réveillon em Cartagena e foi só alegria (tempo firme, cidade movimentada, preços justos e festas à vontade). Recomendo.

O Festival Internacional de Música Clássica e o Festival Internacional de Cinema são as datas mais importantes do calendário de eventos de Cartagena, e acontecem em janeiro e março todos os anos, respectivamente. Pode ser difícil encontrar hotéis na cidade.

COMO IR

Não existem voos diretos entre alguma capital brasileira e Cartagena, infelizmente. Para conhecer a cidade é preciso fazer conexão.

Do Brasil, as maneiras mais práticas de chegar na cidade são: com a TAM/LAN, fazendo conexão em Bogotá ou Lima; com a Avianca, também com conexão na capital colombiana; e com a Copa Airlines, via Cidade do Panamá.

A partir de dezembro de 2015 a Delta vai começar a operar voos diretos desde Atlanta, nos EUA.

É bom reforçar que brasileiros não precisam de visto para turistar na Colômbia, e a vacina contra a febre amarela é recomendada (saiba mais sobre como tirar o certificado internacional AQUI).

Aposto todas as minhas milhas aéreas que Cartagena das Índias vai te encantar! 

3 Comentários

  1. GRAZIELLA P D DOS ANJOS EM 16/01/2017

    Muito legal suas dicas, obgada por partilhar, vou conferir hein.

    • Caio Tristão
      Caio Tristão EM 17/01/2017

      Oi Graziella! Tudo bem?

      Obrigado! Aproveite sua viagem para Cartagena e volte aqui para compartilhar suas experiências. Abraços!

  2. Ana Rosa EM 20/12/2019

    Olá Caio! Achei sua página e gostaria da sua ajuda.
    Eu e minha família estamos indo passar Natal e ano Novo em Cartagena.
    Programamos tudo desde de julho e a beira da viagem percebemos um imenso furo. Não reservamos nada para ceia de Natal e Reveillon.
    Você tem alguma dica?
    Nem sabemos se algo abre dia 25 e 1°

    Obrigada desde já

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